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FASHIONISMO ALÉM DA FUTILIDADE

Por: Primella Leite

De acordo com uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada em 2012, cerca de 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, seja ela mental, motora, visual ou física. Diante desse número, o mercado da moda inclusiva, que possibilita um nicho de roupas adaptadas para essas pessoas, ainda está sendo descoberto no país, mas se faz totalmente necessária. Além da facilidade que as roupas customizadas levam às pessoas com deficiências e mobilidades reduzidas, a vaidade natural e a autoestima da pessoa são colocadas como prioridade.

A moda vem pregando essa bandeira de democracia nos últimos anos, onde a beleza não segue mais um padrão ideal, entretanto, no quesito moda inclusiva a caminhada vem se dando em passos lentos, isso porque ainda há quem precisa fazer suas próprias adaptações às roupas porque não encontra uma marca voltada à necessidade que possui.

Nos Estados Unidos e em grande parte da Europa a moda inclusiva já é foco dos estilistas há mais tempo que no Brasil. Nacionalmente é um nicho que está crescendo em pequena escala, sendo um mercado à espera de desenvolvimento. Puket, QW Surf, Elo Avelar, Luy são algumas das poucas marcas que trabalham a inclusão no modo de se vestir no Brasil.

Mesmo com esse retrocesso, com poucos profissionais que estão apostando nesta causa, a moda inclusiva, além de beneficiar as pessoas com deficiência física, é um bom negócio para as marcas apostarem, dada à carência e à demanda no setor, uma vez que, 45,6 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, sendo 9 milhões só no estado de São Paulo.

Foto cedida por Daniela Auler

OS CONCURSOS DE MODA INCLUSIVA

Em 2009, a Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo criou um concurso chamado ‘Moda Inclusiva’, direcionado a estudantes de cursos técnicos e universitários de todo o país com o intuito de incentivar a criação de looks para pessoas com deficiência. Os melhores trabalhos inscritos recebem apoio através de fornecimento de tecido para a confecção das roupas e participam do desfile de encerramento do evento. Os três melhores são colocados como premiados.

O 1º concurso no estado paulista contou com a parceria do Pensemoda e da Vincunha. O Pensemoda é o grande acontecimento de discussão e filosofia de moda do país e a Vincunha é uma indústria têxtil renomada, fornecedora de grandes empresas brasileiras. A partir da 2ª edição, o evento ganhou importantes apoiadores como a Rede Globo, a Rede de Reabilitação Lucy Montoro e o Museu da Língua Portuguesa. Passando assim, a atrair a atenção de escolas estrangeiras e brasileiras de design.

Ainda não há registros de concursos semelhantes fora do país, segundo o Colóquio de Moda do Estado de São Paulo. Embora em maio de 2012, o projeto ‘Moda Inclusiva’ tenha estreado na passarela da Fiera Milano, por convite da associação milanesa Altha, os looks exibidos já haviam sido desfilados nas edições anteriores do evento no Brasil.

A mostra das peças inclusivas chamou a atenção da mídia, que começou a divulgar mais o assunto.  A Vogue Itália, importante revista de moda no mundo todo, falou sobre o evento e o projeto brasileiro. Dessa forma, a incentiva brasileira, mesmo que a passos lentos, fez com que o mundo lançasse um olhar para esse passo tão importante na caminhada da inclusão fashion mundial.

O concurso ocorre anualmente, não só no estado de São Paulo como no restante do Brasil e estimula novos profissionais a buscarem soluções e inovações de modo a tornarem a física da pessoa com deficiência mais prática, confortável e funcional. O evento também pode ser responsabilizado pelo aumento da oferta no mercado de moda para pessoas com deficiência, pois causa um interesse nos jovens estilistas pela moda inclusiva.

Durante as várias edições do concurso ‘Moda Inclusiva’, muitas alternativas criativas para  facilitar a vida de pessoas com deficiência foram desenvolvidas, como por exemplo: manga comprida destacável por velcro; porta-almofada nas costas para um conforto maior; velcro no lugar de zíper na calça, que facilita o ato de vestir e despir; abertura com velcro no decote para facilitar a passagem da cabeça; reforço interno no joelho, para a criança que mesmo cadeirante consegue “engatinhar”, com costuras mais finas para evitar que se machuque; aplicações de flores em relevo para estimular o tato; aplicação em Braille com a identificação do produto, etc.

Foto cedida por Eduardo Inácio  

Divulgação

Foto cedida por Emmanuel Goulart

OUTRAS ADAPTAÇÕES

Outras soluções apresentadas no concurso foram: abertura frontal (total) em velcro guiadas por botões e uma etiqueta interna descritiva em Braille especificando a cor, o modelo e o tamanho da roupa;colete possuindo ilhós interno nos bolsos esquerdo e direito, que acomodam fones de ouvido de aparelhos de música e/ou celular e os mantém sempre presos ao colete, dando maior segurança e liberdade para as mãos; abertura na calça para quem necessita de medicação e/ou alimentação por sonda externa.

Para os deficientes auditivos já existem cabides com capacidade de armazenamento de informações, como: cor e modelo. O mesmo possui um chip que grava mensagens e é ligado a um alto-falante. O usuário pressiona um botão na parte de trás do cabide e grava uma mensagem identificando a roupa que será pendurada.

CARREIRA FASHION

No final do ano de 2010 o Intituto Mara Gabrilli e a marca Hey!U se uniram para criar uma linha de moda inclusiva. A coleção foi intitulada “Sou pela Acessibilidade”. As primeiras peças dessa campanha foram camisetas com etiquetas em toque Braille, com descrição de cor, tamanho e estamparia para facilitar o reconhecimento por cegos.

Em São Paulo já existem agências especializadas na moda inclusiva. A agência da fotógrafa Kika de Castro, por exemplo, é direcionada à diversidade e inserção de modelos com algum tipo de deficiência no mercado de trabalho. Em 2008, ela fez uma parceria com uma agência em Berlim, a Visable, e desde então tem realizado desfiles por todo o país.

Cabe ressaltar que por possuírem uma deficiência ou uma necessidade especial, algumas pessoas são vítimas de falta de oportunidades de emprego, de rampas na via pública, de acessibilidade nos mais variados locais como mercados, escolas, provadores de lojas de roupas e etc. Mesmo com um aumento significativo dessas pessoas no mercado de trabalho, a falta de vestimentas adequadas às suas necessidades dificulta o cotidiano tanto em sua rotina em casa quanto no ambiente do trabalho. Por isso, a moda inclusiva nunca foi só um ato de consumismo: é um ato de amor e preocupação ao próximo.

Foto cedida por Ravelly Santana

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